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De Passarinho a Condor
03:14
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DE PASSARINHO A CONDOR
Livrei-me da consternação
Porque a memória não é vida
E a combalida emoção
Não é radar de gente ferida
Prego a prego
Taco a taco
Eu enlaço o embaraço
Viro do avesso a dor
Prego a prego
Taco a taco
Eu refaço-me num passo
De passarinho a condor
Fiquei de caras com o fim
Inventei um outro começo
Dedicado a saber de mim
E a cultivar-me por apreço
Letra e música: Daniel Catarino
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2. |
Violência e Fado
02:37
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VIOLÊNCIA E FADO
Havia uma pobre mulher
Que guardava novilhos
Tinha um cajado na mão
E batia nos filhos
Violência e fado
Não ficam nada bem
Não ficam nada bem
Educados à força
Na cabeça demente
De um homem que batia
No que via à frente
Violência e fado
Não ficam nada bem
Ao domingo na missa
Pediam clemência
Tapados no esplendor
Do manto da aparência
Violência e fado
Não ficam nada bem
Não ficam nada bem
Dantes é que era bom
Dizem os velhos do lar
No paraíso machista
De Oliveira Salazar
Venha porrada e mau viver
Quero porrada e mau viver
Dá-me porrada e mau viver
Quero porrada e mau viver
Eram tempos de glória
Diz a falta de memória
Violência e fado
Não ficam nada bem
Não ficam nada bem
Letra e música: Daniel Catarino
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3. |
Ídolo de Karaoke
02:23
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ÍDOLO DE KARAOKE
Ídolo de karaoke
Vens a reboque
Nas páginas dos jornais
És como o papagaio
Forte operário
Na cópia de originais
Foste operado ao ego
Tens um emprego
No ramo da imitação
E o triunfo do nada
Dá-te uma entrada
Na festa da ilusão
Na fábrica do que é nulo
És um casulo
Sem borboleta nem seda
Leãozinho amestrado
Foste enganado
Esperas o que nunca chega
Tens a alma filtrada
Segues a estrada
Do que já aconteceu
És Amália sem fado
Estás agarrado
A um talento que nunca foi teu
Letra e música: Daniel Catarino
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4. |
Adultério na Igreja
03:28
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ADULTÉRIO NA IGREJA
Pedir perdão
É o azeite da paixão
Na salada de ilusão
Que é sentires-te perdoada
Com a boca envinagrada
Pedir perdão é não dar nada
Dizer talvez
É o jeito português
De evitar a acidez
Das azedas carpideiras
No cemitério há feiras
Vendem-se caixões e saladeiras
Cimentado o cemitério
Comete-se adultério na igreja
Que não aleija tanto a fé
No café
Dizer o que se é
É não ser o que se diz
É pimenta no nariz
Que se espalha nos sentidos
As abelhas sem zumbidos
Fazem mel na cera dos ouvidos
Pedir perdão
É dizer que não fui eu
É queimar um bom ateu
E aquecer-se na fogueira
É errar a vida inteira
E pedir perdão por brincadeira
Cimentado o cemitério
Comete-se adultério na igreja
Que não aleija tanto a fé
No café
Letra e música: Daniel Catarino
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5. |
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AS MENINAS LOUCAS DA MONTANHA
As meninas loucas da montanha
Fazem festas, não convidam ninguém
Atiram pedras aos comboios
E só ouvem o que lhes convém
Com as suas mini-saias transparentes
Vão à missa seduzir os crentes
Mostram-lhe os seios e tocam-se entre pernas
Lambem os pés da estátua do mecenas
Foi ali que eu as vi tão belas
Entre estrelas de Hollywood e Cinderelas
Calçavam botas de borracha pretas
Vestido leve que usavam sem cuecas
Perguntei o que faziam ali
Responderam que esperavam por mim
E riram como loucas as três
Beijaram-me na boca à vez
Tiraram a roupa peça a peça
Eu despi-me logo muito à pressa
Deitámo-nos na terra molhada
E fizemos amor em manada
As meninas loucas da montanha
Fazem festas, não convidam ninguém
Atiram pedras aos comboios
E só ouvem o que lhes convém
Riram baixinho no final da festa
E eu levei com três pancadas na testa
Amordaçaram-me a boca com um trapo
Senti-me a cair num buraco
E aterrei num poço profundo
Tudo em que tocava estava imundo
Livrei-me da mordaça e gritei
Mordeu-me a ratazana que pisei
E as meninas espreitaram do topo
Ouviu-se o eco de um riso louco
Fecharam o alçapão e fez-se escuro
E eu com pedras raspava contra o muro
Desmaiei e acordei em sobressalto
As meninas loucas riam alto
Com o corpo ferido e deformado
Foi ali que morri esfomeado
Letra e música: Daniel Catarino
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6. |
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OS MENINOS LOUCOS DA PLANÍCIE
Ao descer a avenida
Com a boca toda ferida
Descobri um mistério por resolver
Encontrei um silêncio
A rondar o comércio
Que fechou quando ninguém estava a ver
Gente pobre é gente fraca
Candelabros de ouro e prata no chão
Ao passar numa porta
A ranger, toda torta
Quis entrar nas ruínas de um burguês
Ao abrir um buraco
Descobri um palácio
Com paredes de luxuosa altivez
Deixei-me cair de corpo
Sobre um manto de borboto no chão
Restos de camas de rede
E pinturas na parede
De famílias que sorriam num altar
Um baú cheio de jóias
E um diário de paranóias
De uma jovem que morreu sem se casar
A madeira bem queimada
Partiu-se ao subir a escada e eu caí
Encontrei uma cave
O tecto preso numa trave
Que cedeu e caiu junto aos meus pés
Ao ouvir um vento rijo
Encontrei um esconderijo
Que servia de jazigo de bebés
Quis fugir dali para fora
Tentei dar um nó na corda do estendal
Vi no chão uma pintura
Por detrás da moldura
Estava um texto que me pôs logo a tremer
"Quem não sabe ao que vem
Não verá mais ninguém
Aqui chegou e aqui irá morrer"
O telhado desabou
Ali mesmo me enterrou e eu morri
Letra e música: Daniel Catarino
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Daniel Catarino Porto, Portugal
Daniel Catarino é um cantautor alentejano residente no Porto. Em canções que fundem a música de raiz e o rock, aborda os paradoxos da humanidade entre a frieza analítica e o calor poético.
Ao vivo, apresenta-se em trio.
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