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Isolamento Volunt​á​rio?

by Daniel Catarino

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1.
não é nada, vais ver isto vai passar mas cada vez que ligo a televisão piorou a situação vou-me remeter ao meu antro vazio de mãos lavadas e o corpo castrado no cio não tenho mais medo de morrer do que ontem qualquer dia pode ser o fim não tenho mais medo de morrer do que ontem a morte anda aí mas sempre foi assim tanta gente doente mal começou a somar até que a tabuada multiplicou tento manter-me calmo sem ataques de pânico obrigado a usar o bidé como papel higiénico 12 março 2020 Porto
2.
sou um morto-vivo sozinho e cativo lamentavelmente falta-me aguardente espreito da janela tanta gente em celas tanto tempo morto num prédio do Porto é casa ou é prisão? talvez não tens razão é prisão tens razão talvez sim talvez não que venha a salvação mas estou melhor sozinho no quarto a coçar o sovaco que fechado num barco a vida linda parte num cruzeiro sem embarque estar de quarentena não é ter gangrena álcool e lixívia nada de lascívia vou-me lavar apanhei ar lá fora lá fora, ai a correr, a saltar sem correr nem saltar tudo a desinfectar amanhã repete e volta a dar mas estou melhor sozinho em casa que numa cama rasa a tossir pulmões 16 Março 2020
3.
Candidatura 04:14
candidatura alguém preenche a candidatura preenche o formulário, o otário o saloio que vai pedir apoio tem uma coisa no olho que está fora do regulamento não merece garantir o sustento há pobres e pobres eu sei que a vida é dura apresenta uma candidatura um inquérito que desbota nas mãos de quem pede ajuda a quem lha promete a distribuir a quem lhe servir o pão nosso de cada dia bem regado em burocracia enrolado numa côdea dura vem preencher, vem preencher a tua candidatura burocracia comprovativo de que estou mais morto que vivo um anexo para a falta de sexo e um óbito por precaução apresenta o documento que valida a tua pobreza que a tua conta do banco está tesa e um pobre com fome não perde a compostura apresenta uma candidatura burocracia candidatura se não preenches a candidatura não vais ao concurso, seu urso que dá acesso à declaração um requerimento com fotocópia do atestado e um carimbo por cima assinado e ainda a factura com boa leitura assim se faz uma candidatura
4.
anda por aí polícia à paisana que discorda das cores da farda humana o vermelho que escorre do negro assina o contrato de emprego de gente que ao fim-de-semana é polícia à paisana anda por aí gente faminta que aperta o espartilho por cima da cinta escorre a casa pelo telhado sobre um prato descampado e a rua é a quinta de gente faminta anda por aí a caveira de alguém que caiu da cadeira ossos moles de uma queixada que fala muito sem dizer nada e alastra a sua cegueira de caveira anda por aí o passado feito polícia do condado corre pelas artérias já vazias de ideias a triste figura de estado do passado andam por aí os iluminados chaves dos futuros cadeados fogo de sofá procura bombeira chove gasolina sobre a lareira e ardem teclas nos teclados dos iluminados a polícia à paisana quer gente faminta presa à caveira presa ao passado dos iluminados
5.
bom dia sorriem os lençóis será hoje que se acabam os heróis? que abre o café o bar e a discoteca não sei dançar mas bebo uma caneca um dia responde-lhe a fronha quando a ciência deixar de fazer ronha destapa os pés do corpo que enrolas e tu colchão solta quatro ou cinco molas bom dia como vais? vou dormindo umas horas a mais bom dia como vais? vou comendo umas coisas a mais bom dia acorda o edredão então é hoje? já temos solução? não há novidade responde-lhe o estrado a cura para andar não é ficar parado bom dia acena a cabeceira estou a fritar não dormi a noite inteira o autoritarismo piora-me a doença vou ficar só como o alho na dispensa bom dia como vais? vou dormindo umas horas a mais bom dia como vais? vou comendo umas coisas a mais bom dia como vais? vou fechando umas coisas a mais bom dia como vais? vou fugindo dos hospitais bom dia

about

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"Isolamento Voluntário?" é o novo disco de Daniel Catarino, mas não estava pensado para o ser. As canções foram surgindo quase como diário cronológico do autor alentejano durante a pandemia, com o intuito de escamotear os momentos em que cada uma delas sentiu necessidade de nascer.

"Não tenho mais medo de morrer do que ontem" e "Um cruzeiro sem embarque" abordam dúvidas e receios do início do confinamento, "Candidatura" e "Coração Muito Estreito de Gibraltar" são olhares preocupados com a sobrevivência e a liberdade. "Conversa de Cama / Bom Dia", que é lançada em simultâneo com o disco, resume a esperança e o delírio que se instalaram desde Março de 2020. Ao desaguar no caos, este final tanto é epílogo do ontem como prólogo do amanhã.

Se em "Sangue Quente Sangue Frio" se destacavam os instrumentos acústicos, em "Isolamento Voluntário?" entramos no campo de um indie rock que pisca o olho ao psicadelismo e à música de intervenção. A isto não são indiferentes as participações do disco: Nuno Markl, Inês Barbosa, Pedro Pestana (10.000 Russos, Tren Go! Sound System), João Baião (Amanita Ponderosa), Joel Fausto (Omitir), Xinês (Awaiting The Vultures), Rapaz Improvisado e Eddie Santos emprestaram à distância as suas vozes e talentos a estas canções em que, à imagem dos trabalhos anteriores, Daniel Catarino usa as palavras para traçar retratos poéticos e viscerais.

"A pandemia fez-nos oscilar entre a sanidade e a esperança, da tragédia constante à diminuição dos níveis de poluição, dos excessos de autoritarismo aos gestos mais humanos. Neste disco, que é uma crónica poética mas fidedigna da confusão instalada, estas contradições são abordadas com a empatia de quem compreende o mundo à sua volta e tem o engenho de o condensar em canções desafiantes. É música do agora e para já." - Jorge Ferreira

credits

released May 27, 2021

Letras e músicas por Daniel Catarino excepto (2), letra por Daniel Catarino, música por Daniel Catarino e João Baião.

Daniel Catarino: voz, guitarra, baixo, teclados, guitalelé, produção, mistura, grafismo
Nuno Markl: narração em (1)
Rodrigo Guedes de Carvalho: narração em (1)
João Baião: guitarra, teclados, programação em (2)
Joel Fausto: saxofone em (2), masterização
Pedro Pestana: guitarra em (3)
Xinês: bateria em (3)
Rapaz Improvisado: guitarra, arco em (5)
Eddie Santos: guitarra em (5)

Escrito, gravado e produzido em confinamento no Porto, de 12 Março 2020 a 14 Abril 2021.

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about

Daniel Catarino Porto, Portugal

Daniel Catarino é um cantautor alentejano residente no Porto. Em canções que fundem a música de raiz e o rock, aborda os paradoxos da humanidade entre a frieza analítica e o calor poético.
Ao vivo, apresenta-se em trio.

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